onde deixei meu samba?

- pra quem acha que o mundo acabou, pra quem não encontrou o amor(...)pra quem sempre sofreu e hoje em dia é feliz(...)pra quem ama respeita e crê, e pra aquele que paga pra ver, tenha fé...nunca perca a fé em Deus. - Diogo Nogueira



O samba tocou, e pela primeira vez, eu não sambei. Observei as rodas de amigos. Observei os casais. Observei o coro que acompanhava o sambista. O namorado, mais parecia um charmoso mestre sala, e a namorada, com seu vestido florido sambava com o amor de quem ama o samba, assim como uma rainha de bateria. E como diz um samba de fundo de quintal tudo aquilo "seduziu meu olhar, e só quem viu pode contar". E eu observei, e não sambei. Logo eu, que não posso sentir o vento bater no vestido que já saio no miudinho, estava ali, parada, observando. O sambista cantava e clamava pro samba não morrer. E eu pensava: onde deixei meu samba? Ai, um nó garganta, como se soubesse a resposta. Mas de que adianta tanto samba no pé, tanto amor no coração, tanta paixão correndo nas veias, se me falta meu mestre sala pra me cortejar? Não, eu não gosto de reclamar da vida, acho até que ela é bonita, é bonita, e é bonita. Mas quando a gente se sente só " é como se a gente virasse um poeta, e arrancasse as palavras de dentro do peito", já diz o bom e velho samba. Já levei tanta flechada de cupido, que meu peito até parece tábua de tiro ao alvo, e não tem mais onde furar! Sinto meu coração mais uma vez, com algo pontudo e cortante dentro dele. E que o faz sangrar em forma de um samba de desamor de Noel Rosa. Preciso dessa coisa chamada aconchego, sossego, calmaria. Chega de sentir tudo sozinha. Não quero samba de desamor. Quero ser choro de cavaquinho, violão, e flauta. Quero ser a dona do lugar, o iaiá e o ioiô. Mas o samba diz que quem tudo quer, nada tem. E foi por isso que não sambei. Porque samba passageiro e sem mestre sala, eu não quero mais.




- Garçom, mais uma cerveja, que estou esperando um pouco de partido alto.

Just like Tita

"Como vê, todos nós temos em nosso interior os elementos necessários para produzir fósforo. E além disso deixe-me dizer-lhe algo que nunca confiei a ninguém. Minha avó tinha uma teoria muito interessante: dizia que ainda que nasçamos com uma caixa de fósforos em nosso interior, não podemos acendê-los sozinhos porque necessitamos, como no experimento, de oxigênio e da ajuda de uma vela. Só que neste caso o oxigênio tem provir, por exemplo, do alento da pessoa amada. A vela pode ser qualquer tipo de alimento, música, carícia, palavra ou som que faça disparar um detonador e assim acender um dos fósforos. Por um momento nos sentimos deslumbrados por uma intensa emoção. Se produzirá em nosso interior um agradável calor que irá desaparacendo pouco a pouco conforme passe o tempo, até que venha uma nova explosão a reavivá-lo. Cada pessoa tem de descobrir quais são seus detonadores para poder viver, pois a combustão que se produz ao acender-se um deles é o que nutre de energia a alma. Em outras palavras, esta combustão é seu alimento. Se uma pessoa não descobre a tempo quais são seus próprios detonadores, a caixa de fósforos se umedece e já não podemos acender um só fósforo. Se isso chegar a acontecer, a alma foge de nosso corpo, caminha errante pelas trevas mais profundas tentando em vão encontrar alimento por si mesma, ignorando que só o corpo que deixou inerme, cheio de frio, é o único que podia lhe dar isso.
Se alguém sabia disso era ela. Infelizmente tinha de reconhecer que seus fósforos estavam cheios de mofo e umidade. Ninguém podia voltar a acender um só."

eu prefiro a verdade à essa discutível perfeição


Eu sempre fui uma menina reservada, desde os meus tempos de criança. Enquanto todas as meninas da minha idade suspiravam apaixonadas e declaravam-se pra quem quisesse ouvir, eu, sempre na minha, fazia questão de esconder. Toda vez que me perguntavam se eu gostava de alguém eu ia logo dizendo que não, que quando aparecesse alguém eu ia contar. E não contava. Enquanto todas as minhas amigas, mais novas ou não, iam gostando, ficando e namorando, eu ficava aqui gostando, sonhando e esperando. E mesmo sem ter nenhuma experiência, era pra mim que as meninas corriam quando se tratava de decepção amorosa e, por incrível que pareça, eu conseguia ajudá-las, talvez porque nos meus sonhos eu já tivesse bolado a escapatória para todos os problemas que poderiam aparecer quando ele estivesse aqui.
O tempo passou e a minha fama de menina quietinha, certinha e reservada me acompanhou e, talvez por isso, as pessoas esperam muito de mim e por saber disso, eu acabo me cobrando muito a parte de agradá-las. Quando aparece uma oportunidade, uma possibilidade de amor, eu acabo me perguntando: 'o que será que fulano vai achar?' e acabo abandonando minha tentativa de final feliz, esperando pelo dia que apareça alguém perfeito pra elas, pra depois quem sabe, ser bom pra mim.
Mas hoje, eu cansei. Cansei de me preocupar com o que as pessoas vão pensar, cansei de me preocupar em ser a certinha porque é isso que elas esperam de mim. Eu tenho meus princípios, ainda acho uma idiotice essa história de ficar por ficar, continuo não querendo ser mais uma na estante de alguém, só quero poder ser feliz com alguém sem me preocupar com opiniões e sugestões. Eu só quero poder acreditar no amor de uma pessoa mais nova, mais baixa ou mais escura, sem me preocupar com o critério de perfeição dos outros. Hoje tudo o que eu mais quero é poder conversar com alguém, sorrir pra alguém, sem me preocupar com alguém.

Ando tendo medo da vida. Logo eu que sempre achei que todo rumo é caminho, que tudo na vida é lucro, já que nasci sem nada.Ando com medo de mim, com medo dos outros. Desacreditada, sabe?No meu peito, incessante dor, de passado... Do que foi vivido e do que há por vir. Se pelo menos eu pudesse ter certeza do hoje, eu jogaria todos esses sentimentos fora. Criaria um novo. Deixaria o que brota do eu ir saindo do coração, até intoxicar todo o sangue, e, por fim, todo esse corpo, que não quer ser. E assim a vida seria diferente!Mas, certeza? Só da morte, meu amigo! E, nem na morte, eu tenho colocado minha porcentagem de certeza, de crédito.Há momentos, que penso: Para que tanta insegurança, menina? Há momentos que a vontade de ser outro ser, que não este, amedrontado, desconfiado, desacreditado, é tão grande que me é necessário deixar o espírito sair correndo, voar pra um lugar distante.Nesse vai e vem. Me perco. E, ao mesmo tempo em que sinto que não, penso que sim. São emoções e pensamentos inconstantes, que por serem tão variáveis, não me dão resposta de nada.


"Giorgio, tah tudo assim nem sei..."

(Zeca Baleiro)

"Talvez o maior desafio consista em parar as buscas e se deixar ser-estar para poder reconhecer a felicidade". (Contando e Recontando - Lu)