Nunca esqueço um rosto. Casualidades me encantam.

Homem meu tem que me dizer meu bem. Tem que me dar flores roubadas e meter-se feito sol dentro do corpo, o sol quando fica na pele mesmo quando já é noite. Eu gosto do mel no favo, do amargo no fundo do doce (o amargo dura mais). Eu me defendo do amor. Prefiro o outro lado, o do fogo silencioso na guerra. Não sou de chorar. O mar me atinge é direto no peito. Eu sou é de abraçar.

Derrubo coisas, esbarro nos móveis, tropeço nos meus pés. Sempre me apaixono de repente. Vermelhos são meus vestidos, meus cadernos, minha flor predileta. Minha alegria é vermelha. Meu riso faz um estalo de coisa quebrando dentro. Gosto de ficar no escuro. Coisas miúdas me doem mais. Prefiro declarações de amor inesperadas (às cinco e meia da tarde). Vento nos cabelos me parece carinho. Gérbera é minha flor predileta. Coleciono dragões em miniatura. Tenho um cachorro chamado Alemão. O lugar mais longe em que já fui é:

dentro.

Meus olhos me traem. Meu cadarço sempre está desamarrado. Som de gaita me emociona. Não me interesso por pessoas sem dúvidas na vida. Já torci o dedo brigando com o irmão. As únicas coisas que herdei de minha mãe são

a falta de discernimento

olhar as nuvens

o silêncio

um riso

e os dedos da mão,

o resto não, a menina saiu ao pai. Meu invólucro é fino, neblina sem nada dentro. Prefiro jabuticaba. Estou aprendendo a chorar em público. Acendo lâmpada com os olhos. É na chuva que eu gosto de dançar. Meu coração eu acho que fica nos pés, de tanto partir. Sou mais de mar que de rio. Mais de silêncios que de palavras. De todas as coisas, prefiro as usadas. Desde pequena, roubo flores de canteiros públicos.

Sempre me atraso. Amor para mim é nosso tempo nas coisas. É o tempo, coisa para se perceber depois com os olhos distraídos e reparar fechando-se, sem saber exatamente o momento em que se cala, mas sentindo o coração doer pequeno com esse

calando-se

em contínuo, sem saber onde termina, nem se começa, ou volta, ou onde, alguém sabe para onde?

Eu nunca me curei da minha infância. Sigo desconhecidos na rua e me perco. Ouço conversa dos outros. Leio dedicatórias em livros dos outros. Estranhos me abordam na rua. Crianças gostam de mim. Quero uma filha chamada Sofia (minha irmã foi mais rápida vou ganhar uma sobrinha com esse nome). Gosto de cachorro quando espreguiça. Gosto de gente que me pede carinho, principalmente se abaixam os olhos para me pedir carinho.

Gosto das coisas assim, no momento exato em que elas acabam para sempre. Eu sou feita de saudade. Qualquer coisa fechando-se é mais bonita. Para mim, a palavra mais linda de todas é travessia. Sou de agarrar com força. Sempre amei por alegria.

0 Response to " "

Postar um comentário